No livro A mãe, de Maxim Górki, um dos personagens centrais, Pavel, ao final do julgamento dele e de seus companheiros de luta, termina assim sua defesa:
[Dirigindo-se ao juiz e seus assessores:]
"Não desejo ofender-vos pessoalmente, pelo contrário: assistindo por obrigação a esta comédia a que chamais julgamento, quase tenho compaixão de vós. Apesar de tudo, sois homens, e nos é sempre custoso ver pessoas, ainda que hostis aos nossos fins, submeterem-se de uma maneira tão vergonhosa à violência, perderem a tal ponto a consciência de sua dignidade".
Esse belíssimo e contundente trecho, por sinal, me remeteu a outro trecho do livro, páginas antes, no qual o jovem Ignati, após ser atendido por um médico e cuidado pela "mãe", aprende uma lição de Nicolai:
"- Aquele senhor é doutor?
- Nesta causa não há senhores, há apenas camaradas...
- Já não entendo nada! - disse com um sorriso perplexo e incrédulo.
- Que dizes?
- Nada. Num lado, batem-nos na cara, noutro lavam-nos os pés e no meio, quem é que está?
A porta do quarto abriu e Nicolai apareceu:
- No meio estão aqueles que lambem as mãos dos que batem e sugam o sangue de suas vítimas, são esses que estão no meio"
Pensando nos acontecimentos das últimas semanas, os trechos acima nos mostram como, embora muitas coisas mudem rapidamente, outras custam a ser transformadas.
Prof. Ronaldo Gaspar.
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